segunda-feira, 5 de novembro de 2012


O anjo

O cano gelado encostou  na lateral de sua cabeça. Suas próprias mãos a sustentavam no ar, trêmulas, enquanto seu corpo vacilava por momentos incertos.
Havia luz no local. O sol começa a surgir por trás de montanhas oriundas do horizonte. Montanhas aquelas que ele nunca mais iria ver. Pássaros tristes voavam pelo céu encoberto pela luz matinal. Em seus olhos vidrados no horizonte, a luz daquele sol refletia, junto a cada lágrima e gota de suor em sua face.
Seus dedos tateavam o gatilho. Possuía receio do que fazia. Então fechara seus olhos. Parecia convicto de que aquele era o momento.
- Você não precisava fazer isso – uma voz sugeriu no seu lado. Seus olhos se abriram à arma. De repente, uma mão lhe tocou o ombro:
 –Não há motivo para isso.
- Eu já não possuo mais nada – disse o homem, com a voz cansada e rouca. -Todos se foram.
- Eles escolheram isso. Você não precisa seguir o mesmo caminho. – a voz parecia confortadora.
- Mas isso tudo é culpa minha! -exaltara-se o homem. – Eu não fiquei do lado dela, por isso ela se foi. Por isso ela os levou junto!
- Ela sabia que iria morrer. Ela errou, não podia tê-los matado também. Embora não houvesse cura, eles ao menos viveriam. Foi decisão dela fazer isso.
- Mas eu...
- Você não podia fazer nada. Quando alguém se mata, sua alma não pode ser aceita em lugar nenhum, pois seu caminho foi realizado pela metade. Eles ainda tinham um grande caminho pela frente, assim como você.
O homem então baixou lentamente a arma.
- Olhe para frente, você não vê que mesmo após horas de sombra, surge uma luz?
Os olhos do homem se banharam com a luz do sol, agora grandioso em meio ao céu limpo da manhã.
- Viva por eles, e faça valer a pena cada segundo. Siga seu próprio caminho.
O homem abaixou-se e agarrou a grama molhada por orvalho. Estava chorando com aflição. A arma depositada ao seu lado já não lhe trazia qualquer vontade de usar. Então ele levantou-se e virou-se.
- Quem é... – Mas não continuou a frase, pois não havia ninguém ali. Não muito longe, ele podia enxergar sua casa, solitária em meio aquele campo. Triste, olhou para o chão, e logo em seguida, olhou para o céu, onde mais uma pena caía.
Então, ele sorriu e voltou a olhar para o sol. Ele já sabia quem lhe havia salvado.

Lucas Meyer Becker,
Oberdam M.  de Lima
 João Paulo Quevedo Pereira






Nenhum comentário: